domingo, 11 de abril de 2010

CRÔNICAS AMERICANAS 4

Um balcão sobre a barbárie

Invocaremos a Sibila, o oráculo de Delfos, as sombras do Hades e em igual importância As Almas dos Santos Vaqueiros e as sombras dos caciques mortos na luta contra os invasores barbudos, assim como os Meninos Heróis que enfrentaram os fuzileiros navais quando eles se revelavam como bandidos saqueadores dos Salões de Montezuma. Invocaremos os camponeses heróis do trabalho anônimo espelhados por Hesíodo antes que por Homero e ao descobrir o heroísmo sombrio de Lautaro e de Condorcanqui estaremos apenas reverenciando os pais fundadores de uma América que foi gestada por americanos. Denunciaremos os assassinatos e as torturas impulsivamente cometidos por colonizadores e friamente praticados por esbirros de ditaduras inomináveis. Pediremos a fúria dos céus para eles, porque os fratricídios foram condenados até pela Bíblia quando menos por livros sagrados mais sagrados. Depois pensaremos em quanto mau gosto fomos obrigados a engolir e quanto fomos prejudicados pelas diversas iniciativas religiosas colonizadoras, assim como fomos sutilmente encaminhados a intercâmbios como aqueles que foram inventados pelos faraós e que fazem com que nossos jovens sejam alienados de por vida. Descobriremos que alguns de nossos poetas foram profetas, que as ODAS A LAS ESCALINATAS e que a LADERA ESTE foram revelações de uma alma indígena americana mundial que se descobre entre civilizações. Nosso mundo se recompõe entre galerias dentro de palácios que pareciam maciços, onde deuses enojados do cotidiano se retiravam para meditar sobre o passado, entendendo que só há futuro quando ele é construído. A América que se fez sobre os inúmeros índios mortos não tem lugar para as elites carcomidas alienadas que se afirmam por meio de se negarem. Estamos no umbral de uma civilização que se forma mediante a dialética negativa da contra revolução burguesa e descobrimos, para nossa mais genuína surpresa que estamos de pé em um balcão sobre a barbárie do império anterior.

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